Tito Rosemberg 1968 em Saquarema com seu companheiro Jeep em busca das ondas perfeitas!
Na melhor época, no melhor lugar!
Sou um cara de sorte, nasci em 1946 na Urca, no Rio de Janeiro, numa época em que ainda era a Cidade Maravilhosa. Desde criança vivia na praia. Com dois anos a família foi morar em Copacabana, a poucos metros do mar. Desde pequeno convivia com os guarda-vidas, ajudando a salvar quem se afogava. Logo comecei a pegar ondas de peito, o famoso jacaré e fiquei fascinado pelo mar e pelas ondas. Em 1962 descobri o surf no Arpoador e logo soube que estaria para sempre ligado à prática dos reis havaianos.
O Rio dessa época era idílico, sensual, poético, dominado por um clima da bossa nova que surgia nas paradas de sucesso. Não havia engarrafamento, bandidagem nem risco de vida, um paraíso. Quando comecei a surfar no Arpoador haviam apenas uns 10 surfistas e todos surfavam as famosas madeirites, tábuas feitas com compensado naval. Para pegar impulso tínhamos que usar dois pés de pato e o melhor era da marca Swim-Fins.
1965 – Arpoador – Foto: Tito Rosemberg
1963 – A galera surfando com prancha de madeirite – Foto: Tito Rosemberg
1963 – Galera fazendo posse pra foto com as pranchas de madeirite – Foto: Tito Rosemberg
Edgard (1963) com prancha de madeirite no Arpoador – Foto: Tito Rosemberg
1963 – Turma com prancha de madeirite na água – Foto: Tito Rosemberg
Em pouco tempo o Arpoador tornou-se pequeno demais para nossa curiosidade e começamos a ir conhecer o litoral do Rio. Descobrimos a Barra da Tijuca, o Pontal, a Macumba, Prainha, Grumari e Barra de Guaratiba. Quando tudo isso ficou comum, começamos a investigar as ondas em Saquarema, Arraial do Cabo e Búzios.
Logo surgiu a vontade de surfar o mundo, e com o aperto da ditadura, em 1969, resolvi partir e conhecer outros paíse e descobrir outros ondas.
Fui lavar pratos em Londres, na Inglaterra e descobri que haviam ondas boas na França, principalmente em Biarritz, na França, que se tornou minha segunda casa depois d Brasil.
1965 – Praia de Saquarema – Foto: Tito Rosemberg
1965 – Praia do Arpoador – Foto: Tito Rosemberg
1966 – Praia de Copacabana – Foto: Tito Rosemberg
1965 – Edgard na Frente, Tito Rosemberg atrás – Praia do Arpoador – Foto: Tito Rosemberg
1965 – Praia do Arpoador – Foto: Tito Rosemberg
1966 – Praia de Copacabana – Foto: Tito Rosemberg
1966 – Arduino Colassanti no Posto 6 – Praia de Copacabana – Foto: Tito Rosemberg
1966 – Tito Rosemberg pegando uma boa esquerda na Praia da Macumba com 18 anos
1974 – Marrocos – Foto: Tito Rosemberg
1965 – Praia do Arpoador – Foto: Tito Rosemberg
1969 – Tito Rosemberg na França apreciando as linhas mágicas de Biarritz
Quando decidí fazer pranchas fui trabalhar na Califórnia em 1970, onde me profissionalizei trabalhando na Surfboards Hawaii e na Gorndon & Smith.
De lá voltei para o Brasil e em 1971 montei uma fábrica na Barra da Tijuca e depois no Recreio dos Bandeirantes. No Brasil fiz 300 pranchas, juntei dinheiro e comprei um Land Rover na Inglaterra e fui de volta para as estradas, passando três anos descobrindo o surf no litoral oeste da África, Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Costa do Marfim e Libéria onde vendi o Land Rover e voltei para a Califórnia para trabalhar e fazer dinheiro para outras viagens.
1985 – Camel Trophy
1988 – Tito Rosemberg no Deserto do Sahara
1975 – Tito Rosemberg no Deserto do Sahara
1974 – Marrocos
1974 – Espanha
1974 – Espanha
Tito Rosemberg viajando com Bob Cooper, França 1969
1969 – França
De lá para cá já morei em 105 países de 5 continentes, sempre surfando e buscando conhecer as culturas por onde passo.
Não tem sido fácil mas em compensação tem sido muito divertido. Com o passar do tempo esquecemos os perrengues e mantemos na memória apenas as boas lembranças.
Viver na estrada não é para qualquer um. Tem que estar pronto para fazer qualquer tipo de trabalho e por isso eu já tiva mais de 30 profissões diferentes, desde garçon até jornalista, passando por cantor de rua e tratorista numa fazenda. Quem quiser viajar tem que ser maleável e aceitar ganhar pouco para trabalhar muito, viver sem conforto e às vezes cercado de pessoas que você nem entende o que falam. Tem que estar preparado para passar longos tempos sózinho, sem amigos e sem namorada, para poder seguir viajando. A vida na estrada não é para qualquer um, apenas para aqueles que conseguem superar as dificuldades, o desconforto e o problemas que sempre aparecem.
1965 – Mauritania
1975 – Deserto do Sahara
1985 – Rio São Francisco
2019 – Marrocos
2008 – Masai – África
1989 – Amazônia
1989 – Amazônia
1979 – Washington – EUA
1970 – Bahamas
1975 – Senegal – Foto: Tito Rosemberg
1967 – Maraca, Geribá, Búzios – Foto: Tito Rosemberg
Todas as fotos acima são do acervo pessoal do Tito Rosemberg e não é permitida a cópia ou reprodução sem sua autorização.
Mas, eu dei sorte! Soube superar os obstáculos e apreciar as belezas que o mundo nos traz. Quem quer conforto que fique em casa! Por estas e outras razões é que olhando para trás eu posso dizer: tive muita sorte, estive nos melhores lugares nas melhores épocas, e se você quiser está também ao seu alcance!
Boa sorte aos leitores do Cultura Longboard!
Autor: Peterson Sitônio
